Tuesday, June 27, 2006

Tesouras & decepções

Eu, que sempre procurei cultivá-las com carinho, cuidadosamente, de um jeito bem mais terno do que eu havia feito antes... Queria que dessa vez fosse diferente, aquelas unhas tão crescidas e fortes; eu as achava lindas e perfeitas - ah, sim, nem sempre; mas sempre que um defeito nelas eu achava, tratava de consertá-lo o mais rápido possível... talvez com uma lixa -, e eu cuidava delas com muita paciência. Às vezes favoráveis a sujeiras, então eu me empenhava e limpava-as. Era como se fosse meu dever. Fazia com que trocassem de cor, afinal, ser sempre o mesmo cansa os olhos do outro. E a mente também. Elas nunca me desapontaram, até que um dia... eu fiz um movimento brusco e uma delas quebrou. Fiquei olhando como se não estivesse acreditando. E eu não podia acreditar. Todo aquele cuidado, aquele amor e aquela dedicação, para nada? Em vão? Todos esses meses? Eu estava perplexa. Depois de alguns minutos, acalmei-me e decidi deixá-la de lado um pouco. Pensei em uma solução mais fácil (as unhas postiças), mas seria muito superficial, concluí depois. Ah, eu ainda tinha 9 - ainda tinha chance. Fingi que não existia; a maioria compensava a minoria, tentei ignorar e seguir em frente. Dois dias depois, tomando banho, fui passar o creme no cabelo e senti um -crack. Outra? Não!!! Precisava conferir aquilo, a vida já não era a mesma, eu estava vivendo com medo... Medo de que aquilo acontecesse novamente. E aí, dentro de milésimos, eu tomei coragem, perdi o medo e decidi ver o que tinha acontecido. Sim, eram mais duas. Era o fim. Percebi que já estavam fracas e em meio a toda essa fraqueza, tornei-me mais forte e, terminado o banho, cortei-as de vez. Da raiz.
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meu amor, foi assim com você. exatamente assim.
eu guardo lembranças, mas não guardo rancor.
quis você comigo, mas já acho melhor não tê-lo.
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mas não nego as saudades.
que são intensas às vezes.
intensidade essa que derramo umas lágrimas.
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amei-te. muito. muito e muito mesmo.

Saturday, June 10, 2006

Mal-entendido compreendido

Aquele amor cujo cenário principal era aquele parque, aquele verde, o teu toque, o teu olhar. Pessoas longe, suas vozes perto, embora baixas; tua voz baixa porém mais alta que à das outras pessoas. Todo fonema que você produzia meus ouvidos captavam com a velocidade da luz e a preciosidade de cada palavra originada de suas cordas vocais não se comparavam a nada mais. Deitar no teu colo e ver o tempo passar, contar segundos na cabeça enquanto ficávamos calados sem direcionar olhares a nós mesmos. Sentir você naquele instante e te beijar com vontade, embora fosse um beijo suave, deixando que nossos lábios se manifestassem e dançassem enquanto inclinávamos a cabeça como se num compasso. Os olhos fechados e a imaginação fluía. Incrível, não conseguia pensar em nada. Era tanta dedicação àquele beijo que minha própria mente se desligava. O beijo parecia infinito e assim ele seria, se não fosse pela urgência de nossos olhos de se encontrarem novamente. Admirar você como se estivesse te analisando, reparar cada detalhe e cada traço, aproveitar a luz do dia embora a sombra daquela árvore. Livres. Abraçar-te e limitar minha visão a tudo aquilo que nos rodeava: eu via e não via nada. A força do abraço entregava todo o desejo que havia de ser contido.

(...)

Eu me afastei um pouco porque minhas costas doíam, era o jeito que havia me deitado. Você me interpretou mal e saiu correndo, não conversou, não tentou, apenas fugiu, não condizendo com nada que havíamos vivido...

E aí então eu descobri. Eu me descobri e te descobri.

Eu descobri.
Sinto saudades suas.

{dos afagos e das carícias - das cartas e dos bilhetes;
o seu amor e os sussurros. os nossos hábitos e os nossos desejos}

Wednesday, June 07, 2006

Roda gigante - parte III

O medo é um modo de fazer censura.
E eu quero saber como proceder
pra esquecer
da tua voz, do teu viver.
Porque eu apenas quero caminhar
sem ter que olhar pra trás
e ver você,
vivendo em paz.
Um amor que deixou de ser amor não foi tempo perdido. Ele teve seu momento. Amor que parecia ininterrupto, insubstituível, inigualável, inquestionável e vários outros -in... Nenhum potenciômetro ou balança poderia medir sua intensidade, mas dependendo desta, tal amor pode causar, ao seu estado final, vários danos. Danos que podem se prolongar pelo tempo que for. Remorsos, querer mudar o irreversível, querer que tivesse sido diferente. E só restar a aceitação. A conformação. Passivamente, sem ter o que fazer. Querer viver de novo o que foi vivido para tentar acertar; querer viver o que nem vivido foi. No próximo inverno eu te vejo - novamente - e te dou um abraço mais caloroso. Eu nunca vou saber.