Monday, January 14, 2008

Ao fundo com o barco

Passei por uma fase turbulenta e confusa de emoções. Por isso andei pensando sobre os meus maiores medos na vida.

Há quem diga que o medo nos enfraquece, e acaba por censurar outras pessoas que usem da ousadia. Entretanto, creio que o medo faz parte do nosso instinto de preservação, a fim de evitar emoções negativas, experiências ruins... Mas até quando esse medo é "natural e saudável"?

Quando vou ao dentista, o "medo de doer" é natural. Dá um friozinho na barriga, assim como quando ando na montanha-russa (uma vez em nunca). O medo que a anestesia não faça efeito é paradoxal. Medo de algo que vai me fazer bem. Medo de algo que evitará a dor. (?) O medo de viver situações perigosas, adrenalina a mil, etc. Ok.

Conflitos emocionais já me fizeram ter medo do que o outro iria pensar. E é isso que me motiva a escrever esse post hoje. Isso é tremendamente nocivo. Minhas ações e pensamentos baseavam-se na aprovação do outro; eu já não era eu mesma. A definição de co-dependência define bem isso: "não se vive a própria vida, mas a de alguém o qual é colocado, aos poucos, como centro de existência na vida". Não somos nós mesmos, abdicamo-nos de nossa vida em prol da satisfação do outro. Enfim, vamos ao fundo com o barco.

Tire a venda dos olhos e veja. :)

Saturday, July 21, 2007

Inquebrável

Cristina tomava longos banhos e parecia cuidar mais de si mesma. Há tempos, não cuidava do cabelo, da pele, das unhas, do corpo... Encontrara nele uma motivação para tudo isso. Questionava-se, mas não havia do que reclamar. Ela não vivia para ele, mas dependia dele. Brincando de ser independente, virou gerente de loja. Quem diria? Mal sabia organizar sua vida, seu apartamento, suas relações familiares... Até que o conheceu. Ele não mudou sua vida - a transformou. Abriu-lhe os olhos. Fora o empurrão de que precisava. Tivera estado com outras pessoas antes - mas ele era inigualável. Ele fazia a diferença. Ela tinha medo. Ele parecia perfeito, intrinsecamente - mas não era perfeito. Por vezes tinha a magoado. Ela também. Viviam dias felizes com algumas horas tristes. Quando discutiam, ele tentava acusá-la a ponto de criar uma distância psicológica entre os dois. Ela era e é fraca, cedia, crescia, o acusava também. Orgulho diminuía e a estabilidade voltava. Ele a mostrou quão habilidosa ela era. Que ele era habilidoso, todos já sabiam. Mas era como se ele a houvesse descoberto, dentro de algo já descoberto - ele havia achado um tesouro já achado, porem desconhecido, não reconhecido. Ela nascia novamente. Ela voltou a ter seu brilho, partilhado com ele. Faziam amor preocupando-se com o prazer um do outro - olhavam no fundo das retinas, suavam, piscavam, cansavam. Eram um só. Declaravam-se tudo que sentiam.

But then you figure out that things are not so easy and simple like that. He had been thinking of leaving her just on account of the fact that they had been having a terrible time. Arguing too much, maybe we should break up, he'd think, what for? Leave someone and live sadly for i-don't-know-how-long. When he would talk to her about it, she felt betrayed; she could only think of the time he had been thinking about that and she wouldn't know anything about it. He had been selfish towards his thoughts and feelings; how could he not share them with her? What if he were kissing her and thinking: 'what am I doing?' or simply wondering if it were the right thing. She convinced him that love is not that simple. At last, they learned how to behave in a relationship - their mistakes had a good use.

E então seguiam. Sem rumo. Com objetivos e metas.

Tuesday, June 27, 2006

Tesouras & decepções

Eu, que sempre procurei cultivá-las com carinho, cuidadosamente, de um jeito bem mais terno do que eu havia feito antes... Queria que dessa vez fosse diferente, aquelas unhas tão crescidas e fortes; eu as achava lindas e perfeitas - ah, sim, nem sempre; mas sempre que um defeito nelas eu achava, tratava de consertá-lo o mais rápido possível... talvez com uma lixa -, e eu cuidava delas com muita paciência. Às vezes favoráveis a sujeiras, então eu me empenhava e limpava-as. Era como se fosse meu dever. Fazia com que trocassem de cor, afinal, ser sempre o mesmo cansa os olhos do outro. E a mente também. Elas nunca me desapontaram, até que um dia... eu fiz um movimento brusco e uma delas quebrou. Fiquei olhando como se não estivesse acreditando. E eu não podia acreditar. Todo aquele cuidado, aquele amor e aquela dedicação, para nada? Em vão? Todos esses meses? Eu estava perplexa. Depois de alguns minutos, acalmei-me e decidi deixá-la de lado um pouco. Pensei em uma solução mais fácil (as unhas postiças), mas seria muito superficial, concluí depois. Ah, eu ainda tinha 9 - ainda tinha chance. Fingi que não existia; a maioria compensava a minoria, tentei ignorar e seguir em frente. Dois dias depois, tomando banho, fui passar o creme no cabelo e senti um -crack. Outra? Não!!! Precisava conferir aquilo, a vida já não era a mesma, eu estava vivendo com medo... Medo de que aquilo acontecesse novamente. E aí, dentro de milésimos, eu tomei coragem, perdi o medo e decidi ver o que tinha acontecido. Sim, eram mais duas. Era o fim. Percebi que já estavam fracas e em meio a toda essa fraqueza, tornei-me mais forte e, terminado o banho, cortei-as de vez. Da raiz.
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meu amor, foi assim com você. exatamente assim.
eu guardo lembranças, mas não guardo rancor.
quis você comigo, mas já acho melhor não tê-lo.
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mas não nego as saudades.
que são intensas às vezes.
intensidade essa que derramo umas lágrimas.
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amei-te. muito. muito e muito mesmo.

Saturday, June 10, 2006

Mal-entendido compreendido

Aquele amor cujo cenário principal era aquele parque, aquele verde, o teu toque, o teu olhar. Pessoas longe, suas vozes perto, embora baixas; tua voz baixa porém mais alta que à das outras pessoas. Todo fonema que você produzia meus ouvidos captavam com a velocidade da luz e a preciosidade de cada palavra originada de suas cordas vocais não se comparavam a nada mais. Deitar no teu colo e ver o tempo passar, contar segundos na cabeça enquanto ficávamos calados sem direcionar olhares a nós mesmos. Sentir você naquele instante e te beijar com vontade, embora fosse um beijo suave, deixando que nossos lábios se manifestassem e dançassem enquanto inclinávamos a cabeça como se num compasso. Os olhos fechados e a imaginação fluía. Incrível, não conseguia pensar em nada. Era tanta dedicação àquele beijo que minha própria mente se desligava. O beijo parecia infinito e assim ele seria, se não fosse pela urgência de nossos olhos de se encontrarem novamente. Admirar você como se estivesse te analisando, reparar cada detalhe e cada traço, aproveitar a luz do dia embora a sombra daquela árvore. Livres. Abraçar-te e limitar minha visão a tudo aquilo que nos rodeava: eu via e não via nada. A força do abraço entregava todo o desejo que havia de ser contido.

(...)

Eu me afastei um pouco porque minhas costas doíam, era o jeito que havia me deitado. Você me interpretou mal e saiu correndo, não conversou, não tentou, apenas fugiu, não condizendo com nada que havíamos vivido...

E aí então eu descobri. Eu me descobri e te descobri.

Eu descobri.
Sinto saudades suas.

{dos afagos e das carícias - das cartas e dos bilhetes;
o seu amor e os sussurros. os nossos hábitos e os nossos desejos}

Wednesday, June 07, 2006

Roda gigante - parte III

O medo é um modo de fazer censura.
E eu quero saber como proceder
pra esquecer
da tua voz, do teu viver.
Porque eu apenas quero caminhar
sem ter que olhar pra trás
e ver você,
vivendo em paz.
Um amor que deixou de ser amor não foi tempo perdido. Ele teve seu momento. Amor que parecia ininterrupto, insubstituível, inigualável, inquestionável e vários outros -in... Nenhum potenciômetro ou balança poderia medir sua intensidade, mas dependendo desta, tal amor pode causar, ao seu estado final, vários danos. Danos que podem se prolongar pelo tempo que for. Remorsos, querer mudar o irreversível, querer que tivesse sido diferente. E só restar a aceitação. A conformação. Passivamente, sem ter o que fazer. Querer viver de novo o que foi vivido para tentar acertar; querer viver o que nem vivido foi. No próximo inverno eu te vejo - novamente - e te dou um abraço mais caloroso. Eu nunca vou saber.

Friday, May 05, 2006

Updating!

Bem, minha vida anda meio agitada. Assim, quase uma desordem organizada. Pessoas que entram e logo saem, novos objetivos e objetivos alcançados, cansaço, suor, diversão, trabalho, até a cabeça, muito trabalho! Ó labor!

A verdade é que eu passei pra UFRJ pro 2º semestre. Feliz e radiante como nunca... Orgulho, felicidade, não sei bem... A palavra classificado nunca me teve tanta importância como agora...

E o orkut me parece algo muito interessante agora, visto que já conheço umas 20 pessoas que estudarão comigo! Assim, uma facilidade que só! E talvez eu vá tentar Relações Internacionais em outra faculdade. A notícia ruim é essa: o curso de Rel. Int. só existe nas particulares... mas tudo bem.... Tenho como opção o tal do crédito educativo...


E se assim for... o CNA perder-me-á! =(


São planos.... são planos.

Monday, April 10, 2006

Cheia de tanto vazio

Eu tenho vida. Eu sinto. Sinto o ar que respiro. Vida, dentro de mim. Eu penso e nem sempre aceito o convite de pensar. Eu já amei e amo. Sinto isso, vivo. É interno, é intrínseco, é infinito. Eu expresso. Amanhã eu não sei. Quero saber e não quero perder tempo. Quero acompanhar seu compasso. Eu me abalo, mas levanto. A chuva me atinge, mas eu sei reagir, sei dar o meu melhor. Quando não for suficiente, eu sei aprender. O desafio me desafia ainda com mais força. Paro, não por muito tempo, eu preciso de descanso. Minha mente não agüenta, sinto pena. Eu sou útil, eu me descubro. Eu me liberto, eu me dôo. Eu magoei e me resolvo. Fui magoada mas em mim a mágoa não reside... Tenho saudade. As memórias nítidas, sinto. Idealizo o futuro, não prometo. Eu não sei de muita coisa... Vou sobreviver. Até quando não for mais possível.


{DV}

Sunday, March 26, 2006

Buscando o neutro

Um vocabulário com garbo e elegância permitiria o uso da palavra "instigantes" para que tentasse traduzir as situações descritas nas próximas linhas.


1) Você faz um favor, está com algum interesse. Não está ajudando porque quer. Você não faz o favor, é tido e dito como egoísta, imprestável, que não se dispõe aos outros e dispensa boa vontade.

2) Você pede um favor, é cara-de-pau. Você deixa de pedir o favor, a pessoa se diz triste por você não ter contado com a ajuda dela.

3) Você diz o que pensa, é atrevido, não sabe o que está falando, não pensa muito antes de falar. Você não diz o que pensa, é covarde, tem medo do que lhe possa acontecer.

4) Você liga para sua namorada e a pergunta como está. Você é dependente. Se você não liga, não tá nem aí.

5) Você fez compras neste fim de semana, pensam que você vive no dinheiro, pode ainda ser considerado esnobe. Você economiza, é um mão-de-vaca do caralho.

Se com você nenhuma dessas situações já aconteceu, aperte alt + f4. Se o assunto não lhe interessar, faça o mesmo.

"Incrível", o vocabulário com elegância permitiria o uso dessa também.

Vai sempre haver um comentário negativo. E não, isso não é ser negativista, pessimista, enfim. É que isso sempre acontece. "O homem controla um avião, mas não controla a língua". A crítica mora em todas as pessoas, com um peso forte. Atuante. Grandioso. E sempre haverá a necessidade de falar, comentar, criticar. Muitas vezes, as coisas boas não são percebidas. As ruins sobressaem! Tentar enxergar algo bom é de se admirar.

Neutro? Ser mal-compreendido é comum. Tentar provar o contrário é missão difícil. Indubitavelmente.

Monday, February 20, 2006

O escolhido

Kim e seus amigos cresceram juntos, habitando o mesmo espaço, vivendo sempre com bravura. A vida era difícil, a escolha, a procura, a sobrevivência. Todos eram conscientes de que não se vive para sempre. Todo dia depois do colégio, almoçavam e descansavam um pouco. Logo depois, saíam de suas casas para brincar. Um deles trabalhava, já era adulto, crescido: não queria nem mais saber de brincadeiras. Kim era o mais alegre, o mais veloz. Corria com a força de um furacão, tentando escapar de seus amigos. Riam, divertiam-se. Eram felizes. Disputavam a corrida, partindo da casa amarela, até o fim da rua. Numa tarde setembrina, já chegando a noite, a corrida foi maior. Foi a maior corrida de todos os tempos. Foi a maior corrida da vida de todos eles. Foi a corrida mais desesperadora, a corrida que tirou deles muita garra, muita determinação, e muito suor. Como nunca. Para aquele dia, haviam se preparado tanto. Apenas um deles iria de encontro a ela. Ela, tão sonhada ela. Quando se encontrassem, abraçariam-se tão forte que seriam um só. Iriam formar outro ser. Kim deixou seus amigos e outros milhões para trás e foi atrás de seu sonho, seu objetivo maior. E lá chegou, vitorioso. Em primeiro lugar.

Monday, February 06, 2006

Novamente

Sentia falta destes dentes brancos
Aqueles sorrisos que ajuda pediam, brandos
Mas não encontravam
E fechavam-se

Um outro ganho que repôs uma perda
Repôs - e em mim compôs - um espaço vazio
E nesse ínterim me perdi
Mas já me encontrei

E então agora
Deixe-me sentir teu corpo
Deleitar-me em teus cantos
Fazer das horas inimigas
Da doce escuridão uma companheira -
- efêmera - e enfim ao nascer do sol
Quando livrar-nos-emos dos lençóis
Partir novamente irá

O colorido no coração não desbota
A não ser que morra
E da morte não tenho medo -
apenas receio - do que ela pode causar.

Sei que a mim dará a graça de voltar
E não me preocupo - só um pouco -
Porque a magnitude dos momentos passados
Impera em mim e em minha memória
Que nunca é falha
Mas prefere falhar quando considera
Tudo que contribuiria ao fato de não tê-lo.

Ou de querer não tê-lo.

Porque isso é um pouco mais que
.......................[impossível.

Espero-te.

Monday, January 23, 2006

À sua espera

Eles já se conheciam há quase um mês. Teresa, sempre muito bem arrumada, nunca esquecendo-se de combinar cores de roupas, sentia algo diferente nele, algo que a trincava, que a incomodava, todavia nomear aquilo não conseguia. Roberto sempre fizera o tipo conquistador, era popular entre as meninas e o sucesso nunca havia sido efêmero. O que acontecia era que nenhuma delas sabia que eram apenas uma dentre tantas. Interessava-se por um bom corpo, simpatia, timidez. As tímidas o excitavam, ele gostava do prazer retraído. Conheceu Teresa através de José, um amigo da faculdade de Direito. Tudo começou naquele dia naquele bar. José levou Teresa e mais um amigo para comemorar a passagem para o quinto período da faculdade. Teresa, no terceiro de Enfermagem, conseguiu manter uma boa conversa paralela com Roberto. Todos conversavam harmoniosamente e, às três da manhã, trocaram todos os telefones. Uma semana depois, Roberto surpreende Teresa ao telefone:

-Teresa? Lembra de mim? Roberto, José, Direito, bar, semana passada?
-Olá Roberto, como iria esquecer-me de você? Como está?
-Estou bem. Preciso de um favor seu.
-Ah, sim, diga.
-Diga-me, o que devo fazer com alguém com crise de pressão alta?
-Pressão alta? O que houve? É sua mãe?
-Sim, ela.

Pretexto. Como ele pôde?!

-Muito obrigado, Teresa, eu sabia que poderia contar contigo.
-Por nada, Roberto, quando quiser, tem meu telefone.
-Obrigado mesmo. O que fará amanhã à noite?

E então, encontrar-se-iam no dia seguinte, mesmo bar, ter uma boa conversa. Ele era atencioso, ouvia a todas aquelas palavras desorganizadas em função da timidez. Ela olhava nos olhos dele com pouca freqüência. Deixou-a em casa e tentou um beijo, mas ela se fez de difícil e não correspondeu. Arrependeu-se quatro segundos depois, mas já era tarde demais.

-Eu entendo, Teresa, deve ser cedo demais.
-Não, é que... não sei... não sei o que houve e...
-Tudo bem. A gente se vê.

Ela ligou para ele uns dias depois e quis encontrá-lo para conversar. O encontro seria na praça principal do bairro às sete. Já eram quase cinco da tarde, o sol já se despedia e o nervosismo chegava à Teresa. Sua mãe perguntou-lhe as horas: "falta uma hora e trinta para as 7, mãe" e logo deu-se conta do que havia dito. Tratou de corrigir-se: "são cinco e meia". Ela não conseguia pensar em nada mais. Aquela noite seria decisiva. Teresa iria descobrir sua ousadia pela primeira vez na vida. Ela queria saber que existia de verdade.

Eu tenho lugar. Eu sou Teresa. Eu sei o que possuo e é tempo de descobrir-me. É tempo de doar-me. Eu tenho vontades e existo. Eu existo porque sei o que quero e sei o que sou. Preciso desembrulhar-me desse papel de alumínio para que ele veja quem sou. Ele não sabe do que eu sou capaz. Ele não me conhece e nesse ínterim ele não pôde me saber. Ele não me viu. Não porque não quis, mas porque não lhe mostrei.

Sinto nele algo que me fisga. Sinto que o olhar dele fixo a mim me envolve como a voz revolve a fala. Como águas quentes num dia de inverno me completam. Como o toque envolveria o corpo. Como se aquele olhar penetrasse por mim e ultrapassasse o alcance de minha visão. Não me importa o fato de tê-lo conhecido há pouco. Eu sei o que sinto. E já era hora de saber. Eu não sei o que ele sente, nem sei se ele desconfia do que eu sinto. Mas se desconfiasse, não desistiria de mim. Se não esperasse algo, não me encontraria hoje à noite. Ou quer ele apenas conversar? Não. Eu lembro daquele olhar. Dou adeus à ingenuidade e abro as asas porque sou livre. Eu sou minha.

Teresa tomou seu banho em meio a tantos pensamentos e saiu de lá limpa e livre para a vida, pela primeira vez. Arrumou o vestido preto e os sapatos que havia ganho de sua prima Inês. Era seu aniversário de dezoito e os sapatos ainda cabiam. Era imensa a felicidade por poder ter escolhas. Ela gostava de ter opções. O mundo material para ela nunca foi de tanta importância, mas sua auto-estima veio de sua descoberta, e passou a agarrar-se à moda e à aparência.

Às seis e meia, sairia de casa. Até a praça, são vinte minutos a pé. Ela estava decidida. Ela sabia o que fazer, embora não soubesse que sabia. Seus pensamentos a afogavam e então Teresa fingiu parar de pensar. Afogou-se em seu perfume, então. E nessa troca, deu continuidade à arrumação: arrumou o cabelo, passou uma leve maquiagem e chega. O que ele iria pensar se se arrumasse tanto? Que Teresa pretendia exibir-se?

Tirou o vestido e pôs uma saia leve e uma blusa branca de seda. Mais confortável, ela estava linda. Os sapatos pequenos de Inês ficaram perfeitos com aquelas roupas. E a seda? Proposital. Quando Roberto a tocasse, tocaria aquele tecido leve debaixo do qual encontraria a pele de Teresa, tão macia quanto sua blusa. Todo o corpo macio, esperando pelo toque e pelo beijo de Roberto.

Seis e vinte e cinco. Ela foi à praça. Chegou lá e sentou em um dos bancos à espera de Roberto. A praça estava cheia. Já eram cinco para as sete e nada de Roberto aparecer. Sim, ele é pontual. Roberto não vai chegar antes da hora combinada. Deve pensar que sou como a maioria das mulheres que acham que chegar atrasada é um charme. Deixar a pessoa esperando. Não sei. Sete e dez, onde está Roberto?

Teresa olha para o relógio já aflita, mas quer aceitar que ele chegará. Já faltam vinte minutos para as oito. Ela olha ao redor impaciente. Vê casais de namorados em bancos, vê crianças no parque, vê pessoas passando. Os namorados e suas carícias em público são as imagens que mais a atraem e ao mesmo tempo a repulsam. Ela perde suas esperanças. Não todas.

Eu sei que ele vem. Ele não pode fazer isso comigo, eu sei que existo para mim. E para todos. Se ele não vier, o que essas pessoas irão pensar? O que eu irei pensar? Onde ficará Teresa? Eu já me afirmei, ele precisava me confirmar. Por que atribuo isso a ele? Porque é a primeira vez que deixo isso acontecer.

Roberto não virá. Desistiu de mim e nem ao menos se preocupou em me avisar. Não sei mais se sou. Não sei mais se sinto, se procuro, se desespero, se me preocupo. Eu me procurei e me achei. Por culpa de Roberto. Ele é culpado. Porque o que fez não entendo. Por que fez isso comigo? Pelo simples facto de eu não ter correspondido aquele beijo? E agora o que faço com esse desejo e com esse arrependimento? O que faço? Ele deveria estar aqui para ao menos me responder.

Teresa decide voltar para casa e ligar para Roberto. Pega o telefone, seca as lágrimas que não caíram e disca aquele número, o qual pretendia nunca mais olhar. Embora em sua memória ele já estivesse gravado. Pensava que o emocional era controlável e por inúmeras vezes foi posta à prova. Ela mesma!

Roberto atendeu o telefone. Disse-lhe que decidiu não ir porque assim seria melhor. E por que a deixara esperando feito uma tonta? Por quê? Ele é um completo idiota. Ela não queria mais saber. Roberto não havia atingido o que Teresa esperava. Ela estava confusa. Quem era Teresa? O que fazer com Teresa? Teresa tem mais experiência.

Teresa sou eu e eu sou o que penso. Meus pensamentos sobre mim mesma refletem no que sou. Eu precisei de exteriores para descobrir-me e isso nunca deverá acontecer novamente. Eu aprendo coisas sozinha, por ações que não realizo sozinha. E eu sei ser. Porque eu aprendi a ser.

Roberto nunca mais apareceu. Nem Teresa. Apenas para ela mesma, e para quem a conquistasse de verdade. As roupas de seda não estariam mais aptas a um primeiro ou segundo ou terceiro encontro. Ela havia amadurecido, finalmente, embora se lembrasse claramente do que queria ter vivido e não viveu.

Sunday, January 15, 2006

Textos II

O ovo e a galinha


De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo.

Ol
ho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver o ovo nunca se mantêm no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. – Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. – O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe.

Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas vêem o ovo. O guindaste vê o ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado. Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é óbvio.

O ovo não existe mais. Como a luz de uma estrela já morta, o ovo propriamente dito não existe mais. – Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o começo. A você dedico a primeira vez.

Ao ovo dedico a nação chinesa.

O ovo é uma coisa suspensa. Nunca pousou. Quando pousa, não foi ele quem pousou. Foi uma coisa que ficou embaixo do ovo. – Olho o ovo na cozinha com atenção superficial para não quebrá-lo. Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo impossível entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando. Entender é a prova do erro. Entendê-lo não é o modo de vê-lo. – Jamais pensar no ovo é um modo de tê-lo visto. – Será que sei do ovo? É quase certo que sei. Assim: existo, logo sei. – O que eu não sei do ovo é o que realmente importa. O que eu não sei do ovo me dá o ovo propriamente dito. – A Lua é habitada por ovos.

O ovo é uma exteriorização. Ter uma casca é dar-se.- O ovo desnuda a cozinha. Faz da mesa um plano inclinado. O ovo expõe. – Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais do que a superfície do ovo, está querendo outra coisa: está com fome.

O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo. Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul. – Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama outra coisa. – Não toco nele. A aura de meus dedos é que vê o ovo. Não toco nele – Mas dedicar-me à visão do ovo seria morrer para a vida mundana, e eu preciso da gema e da clara. – O ovo me vê. O ovo me idealiza? O ovo me medita? Não, o ovo apenas me vê. É isento da compreensão que fere. – O ovo nunca lutou. Ele é um dom. – O ovo é invisível a olho nu. De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a olho nu. – O ovo terá sido talvez um triângulo que tanto rolou no espaço que foi se ovalando. – O ovo é basicamente um jarro? Terá sido o primeiro jarro moldado pelos etruscos ? Não. O ovo é originário da Macedônia. Lá foi calculado, fruto da mais penosa espontaneidade. Nas areias da Macedônia um homem com uma vara na mão desenhou-o. E depois apagou-o com o pé nu.

O ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. – O ovo vive foragido por estar sempre adiantado demais para a sua época. – O ovo por enquanto será sempre revolucionário. – Ele vive dentro da galinha para que não o chamem de branco. O ovo é branco mesmo. Mas não pode ser chamado de branco. Não porque isso faça mal a ele, mas as pessoas que chamam ovo de branco, essas pessoas morrem para a vida. Chamar de branco aquilo que é branco pode destruir a humanidade. Uma vez um homem foi acusado de ser o que ele era, e foi chamado de Aquele Homem. Não tinham mentido: Ele era. Mas até hoje ainda não nos recuperamos, uns após outros. A lei geral para continuarmos vivos: pode-se dizer “um rosto bonito”, mas quem disser “O rosto”, morre; por ter esgotado o assunto.

Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adotado, usa-lhe o sobrenome. – Deve-se dizer “o ovo da galinha”. Se eu disser apenas “o ovo”, esgota-se o assunto, e o mundo fica nu. – Em relação ao ovo, o perigo é que se descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A veracidade do ovo não é verossímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se tornar retangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria retangular. (Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer.) Mas quem lutasse por torná-lo retangular estaria perdendo a própria vida. O ovo nos expõe, portanto, em perigo. Nossa vantagem é que o ovo é invisível. E quanto aos iniciados, os iniciados disfarçam o ovo.

Quanto ao corpo da galinha, o corpo da galinha é a maior prova de que o ovo não existe. Basta olhar para a galinha para se tornar óbvio que o ovo é impossível de existir.

E a galinha? O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha. Ser galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva a morte. Então o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo. Sobreviver chama-se manter luta contra a vida que é mortal. Ser galinha é isso. A galinha tem o ar constrangido.

É necessário que a galinha não saiba que tem um ovo. Senão ela se salvaria como galinha, o que também não é garantido, mas perderia o ovo. Então ela não sabe. Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe. Ela era só para se cumprir, mas gostou. O desarvoramento da galinha vem disso: gostar não fazia parte de nascer. Gostar de estar vivo dói. – Quanto a quem veio antes, foi o ovo que achou a galinha. A galinha não foi sequer chamada. A galinha é diretamente uma escolhida. – A galinha vive como em sonho. Não tem senso de realidade. Todo o susto da galinha é porque estão sempre interrompendo o seu devaneio. A galinha é um grande sono. – A galinha sofre de um mal desconhecido. O mal desconhecido é o ovo. – Ela não sabe se explicar: “ sei que o erro está em mim mesma”, ela chama de erro a vida, “não sei mais o que sinto”, etc.

“Etc., etc., etc.,” é o que cacareja o dia inteiro a galinha. A galinha tem muita vida interior. Para falar a verdade a galinha só tem mesmo é vida interior. A nossa visão de sua vida interior é o que chamamos de “galinha”. A vida interior na galinha consiste em agir como se entendesse. Qualquer ameaça e ela grita em escândalo feito uma doida. Tudo isso para que o ovo não se quebre dentro dela. Ovo que se quebra dentro de galinha é como sangue.

A galinha olha o horizonte. Como se da linha do horizonte é que viesse vindo um ovo. Fora de ser um meio de transporte para o ovo, a galinha é tonta, desocupada e míope. Como poderia a galinha se entender se ela é a contradição de um ovo? O ovo ainda é o mesmo que se originou na Macedônia. A galinha é sempre tragédia mais moderna. Está sempre inutilmente a par. E continua sendo redesenhada. Ainda não se achou a forma mais adequada para uma galinha. Enquanto meu vizinho atende ao telefone ele redesenha com lápis distraído a galinha. Mas para a galinha não há jeito: está na sua condição não servir a si própria. Sendo, porém, o seu destino mais importante que ela, e sendo o seu destino o ovo, a sua vida pessoal não nos interessa.

Dentro de si a galinha não reconhece o ovo, mas fora de si também não o reconhece. Quando a galinha vê o ovo pensa que está lidando com uma coisa impossível. É com o coração batendo, com o coração batendo tanto, ela não o reconhece.

De repente olho o ovo na cozinha e vejo nele a comida. Não o reconheço, e meu coração bate. A metamorfose está se fazendo em mim: começo a não poder mais enxergar o ovo. Fora de cada ovo particular, fora de cada ovo que se come, o ovo não existe. Já não consigo mais crer num ovo. Estou cada vez mais sem força de acreditar, estou morrendo, adeus, olhei demais um ovo e ele me foi adormecendo.

A galinha não queria sacrificar a sua vida. A que optou por querer ser “feliz”. A que não percebia que, se passasse a vida desenhando dentro de si como numa iluminura o ovo, ela estaria servindo. A que não sabia perder-se a si mesma. A que pensou que tinha penas de galinha para se cobrir por possuir pele preciosa, sem entender que as penas eram exclusivamente para suavizar, a travessia ao carregar o ovo, porque o sofrimento intenso poderia prejudicar o ovo. A que pensou que o prazer lhe era um dom, sem perceber que era para que ela se distraísse totalmente enquanto o ovo se faria. A que não sabia que “eu” é apenas uma das palavras que se desenham enquanto se atende ao telefone, mera tentativa de buscar forma mais adequada. A que pensou que “eu” significa ter um si-mesmo. As galinhas prejudiciais ao ovo são aquelas que são um “eu” sem trégua. Nelas o “eu” é tão constante que elas já não podem mais pronunciar a palavra “ovo”. Mas, quem sabe, era disso mesmo que o ovo precisava. Pois se elas não estivessem tão distraídas, se prestassem atenção à grande vida que se faz dentro delas, atrapalhariam o ovo.

Comecei a falar da galinha e há muito já não estou falando mais da galinha. Mas ainda estou falando do ovo.

E eis que não entendo o ovo. Só entendo o ovo quebrado: quebro-o na frigideira. É deste modo indireto que me ofereço à existência do ovo: meu sacrifício é reduzir-me à minha própria vida pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver.

Pego mais um ovo na cozinha, quebro-lhe a casca e forma. E a partir deste instante exato nunca existiu um ovo. É absolutamente indispensável que eu seja uma ocupada e uma distraída. Sou indispensavelmente um dos que renegam. Faço parte da maçonaria dos que viram uma vez o ovo e o renegam como forma de protegê-lo. Somos os que se abstêm de destruir, e nisso se consomem. Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, há um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então, não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que, sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente.

A todos os agentes são dadas muitas vantagens para que o ovo se faça. Não é o caso de se ter inveja pois, inclusive algumas das condições, piores do que as dos outros, são apenas as condições ideais para o ovo. Quanto ao prazer dos agentes, eles também o recebem sem orgulho. Austeramente vivem todos os prazeres: inclusive é o nosso sacrifício para que o ovo se faça. Já nos foi imposta, inclusive uma natureza adequada a muito prazer. O que facilita. Pelo menos torna menos penoso o prazer.

Há casos de agentes que se suicidam: acham insuficientes as pouquíssimas instruções recebidas e se sentem sem apoio. Houve o caso do agente que revelou publicamente ser agente porque lhe foi intolerável não ser compreendido, e ele não suportava mais não ter o respeito alheio: morreu atropelado quando saía de um restaurante. Houve um outro que nem precisou ser eliminado: ele próprio se consumiu lentamente na sua revolta, sua revolta veio quando ele descobriu que as duas ou três instruções recebidas não incluíam nenhuma explicação. Houve outro também eliminado, porque achava que “a verdade deve ser corajosamente dita”, e começou em primeiro lugar a procurá-la; dele se disse que morreu em nome da verdade com sua inocência; sua aparente coragem era tolice, e era ingênuo o seu desejo de lealdade, ele compreendera que ser leal não é coisa limpa, ser leal é ser desleal para com todo o resto. Esses casos extremos de morte não são por crueldade. É que há um trabalho, digamos cósmico, a ser feito, e os casos individuais infelizmente não podem ser levados em consideração. Para os que sucumbem e se tornam individuais é que existem as instituições, a caridade, a compreensão que não discrimina motivos, a nossa vida humana enfim.

Os ovos estalam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã. Sem nenhum senso da realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas, arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e comido, clara e gema, alegria entre brigas, dia que é o nosso sal e nós somos o sal do dia, viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir.

E me faz sorrir no meu mistério. O meu mistério é que eu ser apenas um meio, e não um fim, tem-me dado a mais maliciosa das liberdades: não sou boba e aproveito. Inclusive, faço um mal aos outros que, francamente. O falso emprego que me deram para disfarçar a minha verdadeira função, pois aproveito o falso emprego e dele faço o meu verdadeiro; inclusive o dinheiro que me dão como diária para facilitar a minha vida de modo a que o ovo se faça, pois esse dinheiro eu tenho usado para outros fins, desvio de verba, ultimamente comprei ações na Brahma e estou rica. A isso tudo ainda chamo de ter a necessária modéstia de viver. E também o tempo que me deram, e que nos dão apenas para que no ócio honrado o ovo se faça, pois tenho usado esse tempo para prazeres ilícitos e dores ilícitas, inteiramente esquecida do ovo. Esta é a minha simplicidade.

Ou é isso mesmo que eles querem que me aconteça, exatamente para que o ovo se cumpra? É liberdade ou estou sendo mandada? Pois venho notando que tudo que é erro meu tem sido aproveitado. Minha revolta é que para eles eu não sou nada, eu sou apenas preciosa: eles cuidam de mim segundo por segundo, com a mais absoluta falta de amor; sou apenas preciosa. Com o dinheiro que me dão, ando ultimamente bebendo. Abuso de confiança? Mas é que ninguém sabe como se sente por dentro aquele cujo emprego consiste em fingir que está traindo, e que termina acreditando na própria traição. Cujo emprego consiste em diariamente esquecer. Aquele de quem é exigida a aparente desonra. Nem meu espelho reflete mais um rosto que seja meu. Ou sou um agente, ou é a traição mesmo.

Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo. Pelo contrário: parece que é exigido de mim que eu seja extremamente fútil, é exigido de mim inclusive que eu durma como justo. Eles me querem preocupada e distraída, e não lhes importa como. Pois, com minha atenção errada e minha tolice grave, eu poderia atrapalhar o que se está fazendo através de mim. É que eu própria, eu propriamente dita, só tenho mesmo servido para atrapalhar. O que me revela que talvez eu seja um agente é a idéia de que meu destino me ultrapassa: pelo menos isso eles tiveram mesmo que me deixar adivinhar, eu era daqueles que fariam mal o trabalho se ao menos não adivinhassem um pouco; fizeram-me esquecer o que me deixaram adivinhar, mas vagamente ficou-me a noção de que meu destino me ultrapassa, e de que sou instrumento do trabalho deles. Mas de qualquer modo era só instrumento que eu poderia ser, pois o trabalho não poderia ser mesmo meu. Já experimentei me estabelecer por conta própria e não deu certo; ficou-me até hoje essa mão trêmula. Tivesse eu insistido um pouco mais e teria perdido para sempre a saúde. Desde então, desde essa malograda experiência, procuro raciocinar desse modo: que já me foi dado muito, que eles já me concederam tudo o que pode ser concedido; e que os outros agentes, muito superiores a mim, também trabalharam apenas para o que não sabiam. E com as mesmas pouquíssimas instruções. Já me foi dado muito; isto, por exemplo: uma vez ou outra, com o coração batendo pelo privilégio, eu pelo menos sei que não estou reconhecendo! Com o coração batendo de emoção, eu pelo menos não compreendo! Com o coração batendo de confiança, eu pelo menos não sei.

Mas e o ovo? Este é um dos subterfúgios deles: enquanto eu falava sobre o ovo, eu tinha esquecido do ovo. “Falai, falai”, instruíram-me eles. E o ovo fica inteiramente protegido por tantas palavras. Falai muito, é uma das instruções, estou tão cansada.

Por devoção ao ovo, eu o esqueci. Meu necessário esquecimento. Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo. Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar. Mas se ele for esquecido. Se eu fizer o sacrifício de esquecê-lo. Se o ovo for impossível. Então – livre, delicado, sem mensagem alguma para mim – talvez uma vez ainda ele se locomova do espaço até esta janela que desde sempre deixei aberta. E de madrugada baixe no nosso edifício. Sereno até a cozinha. Iluminando-a de minha palidez.

(Clarice Lispector)

Saturday, December 31, 2005

Quatro minutos

(03:02:17) sozinho (reservadamente) fala para tha_ sem sonoo: oi
(03:02:33) tha_ sem sonoo (reservadamente) fala para sozinho: oie!
(03:02:57) sozinho (reservadamente) fala para tha_ sem sonoo: td bem?
(03:03:40) tha_ sem sonoo (reservadamente) fala para sozinho: ae, tu tem msn?
(03:02:58) sozinho (reservadamente) fala para tha_ sem sonoo: sim
(03:03:04) tha_ sem sonoo (reservadamente) fala para sozinho: deixa eu te add?
(03:03:05) sozinho (reservadamente) fala para tha_ sem sonoo: como és fisicamente?
(03:05:02) tha_ sem sonoo (reservadamente) fala para sozinho: deixe eu te add no msn!
(03:05:19) sozinho (reservadamente) fala para tha_ sem sonoo: me fala como és antes.
(03:05:31) tha_ sem sonoo (reservadamente) fala para sozinho: arg, conversaremos pelo msn, é mais fácil =)
(03:06:01) sozinho (reservadamente) fala para tha_ sem sonoo: o q custa dizer como és? tão rápido, pelo msn teremos detalhes.
(03:06:42) tha_ sem sonoo (reservadamente) fala para sozinho: o q tu quer saber de mim? eu odeio e nan sei me descrever =/
(03:07:15) sozinho (reservadamente) fala para tha_ sem sonoo: como é o teu corpo?
(03:07:22) sozinho (reservadamente) fala para tha_ sem sonoo: o q os homens mais gostam em ti?
(03:07:34) tha_ sem sonoo (reservadamente) fala para sozinho: queria eu saber!
(03:07:52) sozinho (reservadamente) fala para tha_ sem sonoo: como é os teus peitos, coxas e bunda?
(03:08:08) tha_ sem sonoo (reservadamente) fala para sozinho: aff.... fala sério hein?
(03:08:17) sozinho (reservadamente) fala para tha_ sem sonoo: tchau
(03:08:22) tha_ sem sonoo (reservadamente) fala para sozinho: tchau! uashuah


Que precariedade.

Ingenuidade minha pensar que eu encontraria alguém decente com quem ter uma conversa legal às 3 da manhã numa sala de bate-papo.

Ai, homens. Quem sabe um dia eles percebem que o físico não é tudo? Fica no plano da dúvida mesmo.



( L )³

Wednesday, December 28, 2005

Sorte no amor?

Eu tinha duas canastras limpas e ela, três, além de três sujas. Mas eu tinha os quatro "três vermelhos". Eu tinha 800 pontos até agora e ela, 900. Como ela não havia pego o morto, seus pontos se equalizavam aos meus. Eu bati o jogo. Ganhei mais 100. Eu com 900, ela com 800. Fiquei feliz.

Ela pagou o que tinha na mão, mas tinha muita carta na mesa.

Eu disse:
_Não contaremos as cartas.

Ela disse:
_Contaremos sim.


Ela fez 1220 pontos e eu 1040.


Que tristeza.

Dezenove meses

_Em todo o caso, visto que esta é a última vez que lhe dirijo a palavra, dar-lhe-ei agora uma explicação para tudo isto, o que não me era imaginável há dezenove meses, na noite de nosso casamento.
_O que disser será supérfluo, já sei de toda a história. Não irei prestar atenção ao que disser, pois será contrário ao que na verdade quero ouvir. Cubro meu sofrimento como se estivesse viajando mundo afora enquanto tu dizes tudo novamente. Apenas respondei-me e sê direta pois sabes que odeio rodeios: não há meio de conciliar-nos?
_Ouça-me. Não há meio de paz entre nós. Estás ciente do que fizeste e eu, por fim, estou também. Não sei o que passara em sua cabeça ao pensar que poderia enganar-me e não ter que arcar com futuras conseqüências. Eu pensei que tu fosses diferente, mesmo porque...
_Chega! Já chega. Não agüento mais isso. Tu estás aproveitando o fato de que me engracei com tua amiga Karenna para que tenhas um pretexto para me deixar. Há quanto tempo se relaciona com Joseph?
_Isto não é de tua conta. Éramos no papel, mas nossa vida de casal se tornou incrivelmente insossa há muito e tu sabes disso.
_Apenas tenho uma questiúncula. O que aquele moço tem que não possuo?
_Não é possuir, é saber. Ele sabe me amar e isso gera-me felicidade: a qual tu não foste capaz de me causar.
_Isso não é verdade. Não minta para ti mesma. Eu fiz de tudo para vê-la esboçar um sorriso; eu tentei dar-lhe o meu melhor. Passamos por uma fase ruim e tu me encheste de insegurança: tua amiga abusou de mim! Não consegues ver? Fui fraco, admito. Entretanto, eu teria poupado-lhe de toda essa história, apenas negando-a, se não estivesse arrependido. O que tive com Karenna não representou nada para mim!
_O que tive e tenho com Joseph representa muito para mim. Carrego uma linda criatura de duas semanas dentro de meu ventre.
_Não! Não pode ser! Não terás como provar-me que não pensaste m mim enquanto recebia-o dentro de ti. Tu és minha! Como pudeste doar-se a outro homem?
_Enfim, à minha explicação. Sê um homem maduro ao menos uma vez na vida e escutai-me. Querer alguém ser sem feliz com esta pessoa é amor disfarçado. É posse. É fazer da pessoa um porto seguro. Infelizmente para você e felizmente para mim, não fui capaz de compactuar com sua posse. Além disso, tu eras meu, e respeitou tua vontade de ter Karenna. Respeite a minha vontade, agora. Assine este papel.
_O que é isto?
_É o papel do divórcio. É somente um papel. Estamos divorciados, no viver, há meses.
_Não assinarei coisa alguma! Não assinarei algo o qual é desejado apenas por ti. Eu ainda amo-te e digo-lhe isso do meu mais profundo ser.
_Assinarás o papel sim, a não ser que queiras que eu suma com nosso filho.
_Não. Denis é meu filho também. Se é assim que queres, que assim seja. Que tu saibas ser feliz... sem mim... missão essa que Joseph não conseguirá cumprir.
_Obrigada. Se precisares, tens meu telefone.

Sunday, December 25, 2005

Eu quero beijar a sua boca louca

Quando beijam, 97% das mulheres fecham os olhos. Apenas 30% dos homens fazem o mesmo.

Para beijar, o ser humano movimenta 29 músculos (doze dos lábios e dezessete da língua).

O beijo apaixonado pode significar a aplicação de uma pressão de 12 quilos sobre os lábios.

Uma pessoa troca, em média, 24 000 beijos (de todos os tipos, dos maternais aos apaixonados) ao longo de sua vida.

Um beijo pode repassar 250 vírus e bactérias diferentes. Quando se beija alguém, resíduos de sua saliva permanecem em sua boca por três dias.

Em cada beijo, os dois apaixonados trocam 9 mg de água, 0,7 g de albumina, 0,18 g de substâncias orgânicas, 0,711 mg de gorduras e 0,45 mg de sais.

Um beijo mais afoito no pescoço pode deixar uma mancha. O sangue circula na região da pele por meio de vasos bem frágeis (chamados de capilares). Quando um dos namorados beija o pescoço do outro com mais força, provoca um aumento de pressão no local que pode romper os capilares. A mancha é formada pelo sangue que escapou e ficou preso embaixo da pele. A marca demora cerca de uma semana para desaparecer. É o tempo necessário para reabsorver esse sangue. A mancha vai mudando de cor. De um vermelho claro, elas primeiro escurecem, depois ficam amarelas e finalmente somem. Não existe pomada que acelere o processo!


xx

Saturday, December 24, 2005

Kids

Para os que já tiveram filhos, para os que pretendem ter e para os que terão + 1!! Exercícios práticos para treinamento de futuros papais e mamães: (O grau de dificuldade de cada exercício é equivalente a tratar de uma criança com um ano de idade):

Vestindo a roupinha: Compre um polvo vivo de bom tamanho e vá colocando, sem machucar a criatura, nesta ordem: fraldas, macaquinho, blusinha, calça, sapatinhos, casaquinho e touquinha. Não é permitido amarrar nenhum dos membros. Tempo de execução da tarefa: uma manhã inteira.

Comendo sopinha: Faça um buraquinho num melão, pendure o melão no teto com um barbante comprido e balance-o vigorosamente. Agora tente enfiar a colherinha com a sopa no buraquinho. Continue até ter enfiado pelo menos metade da sopa pelo buraquinho. Despeje a outra metade no seu colo. Não é permitido gritar. Limpe o melão, limpe o chão, limpe as paredes, limpe o teto, limpe os móveis à volta. Vá tomar um banho. Tempo para execução da tarefa: uma tarde inteira.

Passeando com a criança: Vá para a pracinha mais próxima. Agache-se e pegue uma bituca de cigarro. Atire fora a bituca, dizendo com firmeza: NÃO. Agache-se e pegue um palito de picolé sujo. Atire fora o palito, dizendo com firmeza: NÃO. Agache-se e pegue um papel de bala. Atire fora o papel de bala, dizendo com firmeza: NÃO. Agache-se e pegue uma barata morta. Atire fora a barata morta, dizendo com firmeza: NÃO. Faça isso com todas as porcarias que encontrar no chão da pracinha. Tempo para execução: o dia inteiro.

Passando a noite com o bebê: Pegue um saco de arroz e passeie pela casa com ele no colo das 20 às 21horas. Deite o saco de arroz. Às 22:00 pegue novamente o saco e passeie com ele até às 23:00. Deite o saco e vá se deitar. Levante à 1:30 e passei com o saco até 2:00. Deite o saco em você. Levante às 2:15 e vá ver a sessão corujão porque não consegue mais pegar no sono. Deite às 3:00. Levante às 3:30, pegue o saco de arroz e passeie com ele até às 4:15. Deitem-se os dois (cuidado para não usar o saco de travesseiro). Levante às 6:00 e pratique o exercício de alimentar o melão. É permitido chorar.

Repita tudo o que disser, pelo menos cinco vezes. Repita a palavra NÃO a cada 10 minutos, fazendo o gesto com o dedinho. Gaste uma parcela significativa do seu orçamento com leite em pó, fraldas, brinquedos, roupinhas. Passe semanas a fio sem transar, sem ir ao cinema, sem beber, sem sair com amigos. Não é permitido enlouquecer! Se conseguir passar por tudo isto e achar que pode ser feliz, vá em frente. E boa sorte!

O terror das menininhas

Nos tempos de escola, o Ricardinho era o tal. Não possuía aquela beleza extravagante: ele era simples, bonito, 1,70, loiro, olhos claros. Era meio sem jeito, mas havia algo de especial nele. Não era convencido de si mesmo, mas era convicto da reação que causava nas meninas. Quando passava, elas olhavam para ele dos pés à cabeça: acompanhavam todo seu percurso. Os namorados delas que se virassem! Ele era famoso e sabia disso. Gostava disso. Tinha dois amigos inseparáveis com os quais passava o recreio. Ele entrou na escola na oitava série e, antes de concluir o ano, já havia recebido vários bilhetes anônimos. Às vezes, era pego de surpresa: chegava do recreio, abria o fichário e encontrava mais bilhetes. Ele lia todos até o fim, esboçava um sorrisinho e os guardava. Quando ele entrava em alguma sala para entregar alguma coisa à professora daquela turma, era nítida a inquietação das meninas. Os olhares 43. Os sorrisos. Eram marcantes. Ricardinho parecia um artista. Lembro-me de Ana, uma amiga que era uma das fãs dele. Mas ela gostava mesmo: dizia que era uma paixão platônica. E tudo havia começado quando ela entrou no colégio, na sexta série. Era o primeiro dia de aula e como todos se reuniam no ginásio do colégio, todos os alunos se encontravam. Dizia Ana que ela sentou do lado dele e a partir dali, tudo começou. E era platonismo mesmo. Quando Ricardinho apareceu de mãos dadas com uma menina, quebrou o coração e as falsas esperanças de todas as outras. Os bilhetes já não eram tão constantes, elas tinham medo. No segundo ano, já não estava mais namorando, mas já havia virado homem: o que despertava ainda mais interesse nas meninas. Mas ele não correspondia. Essa falta de resposta e mistério levou a abordagens a ele: algumas meninas abusavam da ousadia e chegavam a ele! Ele só sabia rir. Conquistá-lo parecia uma missão inexeqüível.

No terceiro ano do 2º grau, no ano de 2002, Ricardinho saiu da escola. Deve ter passado no vestibular. Outros tomaram o lugar de Ricardinho lá no colégio.

Ontem, na padaria mais famosa do Méier, era o mesmo Ricardinho que eu vi: só um pouco mais magro e mais alto, com a mãe, comprando um franguinho. Ele continua bonitinho.


{essa história é verídica}

Thursday, December 22, 2005

Top Secret

- E aí? Quem você tirou?
- Como assim quem eu tirei? Isso é pergunta que se faça?
- Pô diz aí. Vai ficar de frescura?
- Não é frescura. É amigo secreto. Coisas secretas devem ser mantidas em segredo.
- Ah! Frescura!
- Se é frescura fala o seu então.
- O meu o quê?
- O seu amigo secreto. Quem você tirou?
- Eu falo o meu se você falar o seu.
- Eu falo o meu se você falar o seu.
- Fala o seu primeiro.
- Não, fala você.
- Não, eu perguntei primeiro.
- Então eu não falo nada.
- Então tá.
- Então ta.
- ...
- ...
- Fala aí vai.
- Mas que saco.
- Por favor.
- Mas por que você quer tanto saber?
- Porque sim.
- Me dá uma boa razão que eu falo, do contrário não.
- Não sei se poderia te falar.
- O quê? O que você sabe?
- Não posso dizer.
- Por que não?
- Poderia te envolver demais nisso.
- Nisso o que minha nossa senhora?
- Sabe o que é...
- O quê?
- É uma parada secreta entende?
- Que parada? Me conta cara, você está desconfiado de alguma coisa?
- Bem, não sei se eu poderia te falar maas...
- O quê, o quê?
- Eu suspeito que os resultados foram manipulados.
- Manipulados? Mas como assim?
- Acho que o sorteio não foi isento.
- Isento?
- É.
- E o que isso significa?
- É o que estou tentando descobrir. O Jader disse isso pra mim e não tenho idéia do que ele quis dizer, mas pretendo descobrir.
- Parece grave.
- Ô!
- Nossa.
- É.
- Salafrários.
- Nem me diga.
- Precisamos apurar isso.
- É, me diz aí quem você tirou.
- Não posso.
- Por que não? Você acabou de dizer que temos que apurar isso.
- Eu sei, mas...
- Mas o quê?
- Você pode ser um deles.
- Eu? Um deles? Como assim?
- É. Você sabe demais.
- O Jader que me contou.
- Isso é o que você diz.
- Ah vai. Pára de bobagem.
- Não é bobagem. Não posso tomar nenhum partido antes de saber com quem estou lidando.
- Como assim saber com quem está lidando? Sou eu pô!
- Será?
- Será o quê?
- Que é você.
- Lógico que sou eu. Você não me conhece?
- Não sei cara. Nesses jogos de espiões tudo é possível.
- Cara, o que você está falando? Que espião? Estamos falando de um amigo secreto.
- Exatamente.
- O quê?
- Secreto. Sei como essas coisas são levadas a sério.
- Como assim levadas a sério? Nós usamos um guardanapo de bar para escrever os nomes.
- Pode desistir que você não vai conseguir me confundir. Sei o que está tentando fazer.
- Não estou tentando fazer nada.
- Conheço suas técnicas. Sou perito. Assisti Missão Impossível.
- Ah cara, então tá bom. Quer saber, não fala nada, você vai ver.
- Vou ver o quê?
- Aguarde.
- Aguardar o quê? O que você vai fazer?
- Você verá.
- Me fala cara. Não vou ficar tranqüilo assim. O que você quer dizer com isso?
- Represálias virão. Nós não ficaremos passivos diante disso?
- Represálias? Nós? Passivos? Não! Como assim? Eu não disse nada.
- Você não sabe com quem está lidando.
- Por favor, tenha misericórdia. Perdão.
- Agora é tarde.
- Não faça isso comigo, eu tenho muito pra viver ainda.
- Deveria ter pensado nisso antes.
- Me fala, por favor, o que faço para me desculpar. Faço qualquer coisa.
- Qualquer coisa?
- Qualquer coisa.
- Então me fala uma coisa. Quem você tirou?


homenagem aos fofoqueiros e fofoqueiras do CNA,
que não sossegavam e quase me subornaram a fim
de saber quem eu tinha tirado.

Ah, o amor

Um dia, um Mestre perguntou aos seus discípulos: "Por que as pessoas gritam, quando estão aborrecidas?"

Os homens pensaram por alguns momentos, e... "Porque perdemos a calma", disse um deles. "Por isso, gritamos".

E o Mestre: "Mas, por que gritar, quando a outra pessoa está ao lado? Não é possível falar-lhe em voz baixa? Por que gritar a uma pessoa que está ao lado, quando se está aborrecido?" Os homens deram algumas outras respostas, mas, nenhuma delas satisfazia ao Mestre.

Finalmente, ele explicou:

"Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. E para cobrir esta distância precisam gritar, para poderem se escutar... Quanto mais aborrecidas estejam, mais forte terão que gritar para se escutarem, um ao outro, através da grande distância que se forma entre elas.

Vejam: o que sucede quando duas pessoas se enamoram? Elas não gritam; elas falam suavemente entre si. Por quê?

Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. E mais: muitas vezes, nem falam; somente sussurram e ficam mais perto, ainda, um do outro. Ao final, nem necessitam, sequer, sussurrar, somente se olham e isto é tudo. Assim é quando duas p essoas se amam: estão sempre próximas em seus corações, ainda que distantes fisicamente. Quando não mais se amam, ainda que estejam perto uma da outra, seus corações estão distanciados um do outro...

Logo, quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem. Falem baixo, mesmo assim; não gritem. Não digam palavras que os distanciem mais. Chegará um momento em que a distância será tanta que vocês jamais encontrarão o caminho de volta..."

Tuesday, December 20, 2005

Eu quero o açaí de 300

É incrível. Sempre que eu ia cortar o cabelo, nunca ficava do jeito que eu queria. Talvez eu não soubesse explicar direito... ou.. ah, sei lá. Saía do cabeleireiro fula da vida, tendo que me acostumar àquele corte novo. Talvez eu devesse mesmo ir-me embora para Pasárgada.

Mas hoje foi tão diferente. Fui a um estabelecimento diferente, vi trans diferentes, todas muito simpáticas recepcionistas. O cara que cortou meu cabelo foi um lindíssimo que tem mãos de ouro e é fã de açaí. Amei tudo. Assim como eu queria.

Ana Paula e Samuel

_ Não quero me arriscar.
_ Não estou te chamando para pular de pára-quedas, apenas para jantar!
_ O pára-quedas me parece mais seguro.
_ Vc tem medo de quê? Sempre me disseram que pareço inofensivo.
_ Esse é o problema.
_ Eu parecer inofensivo? Bom, se você preferir posso fazer umas tatuagens, colocar piercings por todo o corpo e treinar uma cara de mau! O que te assusta tanto?
_ Você.
_ Por quê? Eu fiz algo errado?
_ Não e isso é assustador! Você parece não errar em nada, tem sempre as respostas certas, não perde uma piada, é autêntico, inteligente, defende as suas idéias como quem realmente acreditas nelas, não as usando só para impressionar. Você é transparente demais, nem tem medo de dizer que é fã de Adivaldo Perseu e todo mundo ri porque parece que você é o único ser que o conhece! Só falta você me dizer que é fundador de uma ONG!
_ Er... na verdade eu faço parte de uma sim!
_ Tá vendo! Você é... certinho demais!
_ (Risos...)
_ Até o sorriso é perfeito. Quem olha acha que você nunca teve uma cárie!
_ Nunca tive, mas se isso faz você se sentir melhor, eu acordo com mau hálito!
_ Não! Não acredito! (risos)
_ Sabe o que eu queria de verdade? Apenas a oportunidade de te conhecer melhor. De perto ninguém é perfeito, ninguém é bom o suficiente, ninguém é ideal e é justamente isso que torna uma relação especial, você saber todos os defeitos que aquela pessoa tem e estar disposto a conviver com cada um deles, não ter medo, vergonha ou pudor de demostrar tudo o que se é, o que se deseja ser, que direção deseja tomar por mais estapafúrdia que ela seja.
_ E se você não gostar do que vê em mim?
_ Para eu gostar de você eu não preciso gostar de tudo o que vc faz, de todas as suas atitudes, admirar e concordar com todos os seus pensamentos.
_ Entendi... tipo um CD que a gente compra só porque uma faixa parece ser a música de nossas vidas mesmo que tenhamos pago um dinheirão e ele venha com mais umas 10 músicas que não nos dizem nada ao íntimo?



Um ano depois

_ Lembra de quando a gente começou a namorar?
_ Lembro... bons tempos, não é?
_ Quase...
_ Como assim, quase?!? Para mim foram muito bons.
_ Para mim não porque eu idealizei demais. Fui tão tola que achei que você não tinha defeitos!
_ Eu te avisei que tinha um monte deles, não foi propaganda enganosa.
_ Eu sei, não estou te acusando de nada, apenas pensando no quanto a vida nos prega peças. Aliás, não sei bem se a vida ou nós mesmos. Eu lembro que uma das coisas que eu mais gostei em você foi o fato de ser transparente e hoke isso me irrita a ponto de preferir que você minta do que disparar tudo o que pensa como uma metralhadora descontrolada que acaba ferindo tanto gente... fora as vergonhas que a sua espontaneidade que eu tanto amava já me fez passar!
_ Eu lembro também o dia que descobri que vc alisava o cabelo e tinha colocado silicone, parece tolice, mas foi uma grande decepção.
_ E eu não sei? Até hoje eu lembro a sua cara! Seria cômico se não fosse trágico! Ah! E ainda tem o Roberto Carlos! No primeiro dia quando você me disse que era fã dele enquanto eu falava empolgada de diversos shows de bandas atuais, eu achei o máximo o seu gosto diferente dos demais caras da sua idade. Já hoje em dia eu acho uma tortura ter que ouvir toda hora os mesmos discos já tão arranhados...
_ E por falar em disco...
_ Lembrei da história do CD também, foi o argumento que me conquistou e hoje eu vejo que você estava errado.
_ Concordo.
_ Cansei de ouvir repetidamente a mesma faixa, as demais me fizeram muita falta.

Com certeza amor é muito mais do que isso, é muito mais do que se apegar em características tão superficiais e afirmar que se pode conviver com todo o resto, é muito mais do que admirar pequenas partes sem ter noção de todo o conjunto.





só na atividade...

porque eu gosto deles com todos os defeitos.

xxx

Sunday, December 18, 2005

Uma dúvida

Todo mundo sabe da minha paixão pela língua inglesa, cujo aprendizado é, insofismavelmente, mais fácil, quando comparado ao da língua portuguesa. Mas são duas línguas lindas. Bem, vamos à dúvida que me fez escrever isso aqui.

Prof. Moreno, me ajude. Eu escrevo "fotinho" ou "fotinha"?

Moreno_ Embora a tradição gramatical considerasse "-inho" e "-zinho" como duas variantes do mesmo sufixo, hoje se sabe que são dois elementos completamente diferentes, quanto a sua natureza e quanto a seu comportamento. O elemento "-zinho" funciona como uma espécie de adjetivo preso ao vocábulo primitivo, mantendo com ele a mesma relação de concordância que os adjetivos mantêm com os substantivos: um cometa, um cometazinhO; um poemA, um poemazinhO; uma tribO, uma tribozinhA. O elemento "-inho", no entanto, funciona como um sufixo especial, que conserva o A ou o O final do vocábulo primitivo, independentemente do gênero ser masculino ou feminino: um poemA, um poeminhA; um cometA, um cometinhA; uma tribO, uma tribinhO; um sambA, um sambinhA. No Português, pouquíssimos são os vocábulos femininos que terminam em O: além de tribo, temos a libido (um latinismo importado por via científica) e os dois vocábulos moto e foto, criados modernamente pela redução dos compostos eruditos motocicleta e fotografia. Por isso - se formarmos diminutivos usando "-inho" - vamos ter a motO, a motinhO; a fotO, a fotinhO. É natural que as pessoas achem estranhas essas duas formas, dada a sua extraordinária raridade nos padrões do nosso vocabulário.


Thank you.
Have a nice day.

Então é Na... aff...

Christmas?

Vendo o dinheiro ir e voltar {isso poderia ser assunto pro Roda Gigante III, mas que fique pra mais tarde}, me lembro de todas as coisas supérfluas que são compradas - acho que se eu pudesse vender tudo pelo mesmo preço ou um pouquinho a mais, eu estaria bilionária. Exemplo clássico: o valor total dos CDs originais... meodeos! Dinheiro é como o tempo... Que venham os ricos, dizer-me que dinheiro é o de menos... eu desejar-lhes-ei que todas suas casas gigantescas caiam! Mas voltemos ao assunto do Natal. Ruas lotadas, shoppings lotados, é simplesmente horrível. Andar sem esbarrar em alguém é impraticável. E o que eu quero de Natal? Sei lá, não faço a mínima idéia.

How about you? What do you want for Christmas? *pede que eu te dou ;)


Talvez eu peça ao Papai Noel algumas coisas... Por falar no Noel, semana passada quando fui ao correio não pude evitar de ouvir duas mamães conversando. Uma ouvia e, a outra, com um bolo de cartinhas na mão a serem enviadas, dizia que estava mandando cartas para seus filhinhos, sobrinhos e afilhados... E que as cartas vinham do Pólo Norte. meodeos...será que o enganar as crianças está indo longe demais? Sei lá... quem sabe seja só criatividade mesmo.

Lembro-me de quando eu descobri. Foi um pouco tarde, eu acho. Acho que meus pais testaram minha inteligência. Ou melhor, subestimaram-na.

E o que eu quero de Natal? Ganhei alguns presentes de alguns alunos... "Natal é época de presentes"... meodeos...

Vou deitar e pensar sobre isso.
Good night.

Renato

O sol brilhava, brilhava até mesmo de noite. Nos olhos dele, a visão sóbria das coisas. Renato finalmente acordara. Ele que, sempre muito loquaz, interiorizava-se, em busca de respostas para as perguntas que a si mesmo fazia, por meio de introspecção. Não, não havia respostas! Não havia pergunta alguma! E a confusão dentro dele? Precisava entender. Memória obstruída, ele não se lembrava de nada, e pior: tudo era confuso. O que fora real, o que fora sonho, o que fizera na noite de ontem? Ele não se lembra. Ele quer lembrar o que fez com Marina, porque tem flashes dos traços dela na cabeça. Lembra-se também de uma conversa telefônica, um banho rápido e... Sua memória, de certa forma, aflora, mas ele sente que é o limite. Pensa em certos fatos e sente-se incrivelmente culpado pelo que fizera. Culpa, culpa profunda. Arguia-se incessantemente, até que, mais tarde, decide ir à casa de Tânia, sua namorada de cinco meses. Confessa a ela que houvera traído-a na noite passada com Marina, mas que pensava nela a todo instante. Ora, como pôde Renato inventar algo assim, apenas para absolver-se? Nem ao menos tinha certeza do que lembrava! Porém, não lhe faltou astúcia: queria ser o primeiro a contar isso a Tânia. Ela ficaria sabendo por outra pessoa e, de fato, seria extremamente pior. Tolerância e aceitação não é o que ele recebe, entretanto. O namoro terminava ali, sem dó, nem perdão, nem nada. Tudo que fortificava o permanecer de Tânia naquela cidade era Renato. Na mesma hora, embora com medo de ser impulsiva, ela decide viajar para rever e ficar com os pais. A revolta era inexplicável. O que restava a ele, afinal, senão aceitar? A seqüência de fatos em sua cabeça continuava importunando-o, afinal, não era, de fato, uma seqüência: era uma confusão regada a sentimentos ruins dentro de si. O jogo acabara. Ele desiste de entender, nada iria fazer algum sentido e seria lucro se ele se lembrasse de algo. Todavia, chega de esforços. Aquilo estava acabando com a sua integridade, até mesmo física. Decide ligar para Marina, a fim de que pudesse ser desculpado e tudo estaria acabado. Seu mundo cai novamente. Nos olhos de Renato, o sol brilhava como nunca ao ouvir "ontem? ontem a festa foi ótima, mas deixe disso, homem, minha sobriedade apenas me permitia a dançar uma música dos Beatles com você... foi muito engraçado, você se balançava todo frente a mim, e eu também". Renato pensava que tivera entendido tudo, mas a cada minuto entendia menos ainda. Pensou em ligar para Tânia mas soaria deveras incoerente, ao menos por enquanto. Tentou lembrar-se de outras coisas mas não adiantou. Deitou na cama e dormiu, esperando que os anjos trouxessem paz à sua cabecinha.


* esse texto está cheio de má literatura;
os ecos e ambigüidades foram propositais.

Tuesday, December 13, 2005

Lidos nesses dias chuvosos

Eles não me entendem
Eu quero que eles me entendam
Mas eu não quero
Não quero
Eu não quero sê-los
Eles não entendem -
- Não entendem
A mágica do existir

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Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia, por mais juntos que estejam,
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir -
nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo é aquilo
que ouvimos e chamamos de silêncio.

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Eu não sei o que me satisfaz
Mas eu sei que ele sabe
Eu sei como ele age
Ele sabe o que faz

Esse homem parece que tem fome
Quando olho nos olhos dele
Ele não só me olha - me deseja -
Ele me consome

E a lua cheia também
Não entende de onde isso vem
O que esse moço tem

Ele é cheio de mistérios
Isso deveria fazer-me tédio
Mas não faz não

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O meu amor por você se estabeleceu
Sem motivo, sem porquê
Tudo isso é muito belo
Mas o que sinto por você
Não sinto por Lucas
Rafael
Pedro
Marcelo
Então deve ter um porquê.

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Se eu faço tudo isso por fazer
É porque eu não quero o seu reconhecimento
Se você atribui ao tempo toda a culpa
É porque nesse mesmo tempo tu não fizeste nada -
- Nada -
Para que tudo enfim mudasse

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e o mais foda.... ;D

Quando eu beijo a tua boca
O teu corpo me entrelaça
E a vontade de ti não passa
Como se nada mais tivesse graça

Nós nos comunicamos com os lábios
E de olhos fechados eu
ainda posso te olhar.

O que me encanta são os teus traços
Quando o beijo acaba
E eu caio nos teus braços
Eu volto a te olhar...

O mundo não pára lá fora
Violência, catástrofes, desigualdade
E essa chuva

Então tu dizes que me desejas
Tu me olhas e me beijas
E esse beijo...
Esse beijo vai durar
O quanto ele quiser durar

xxxx
that's all folks!

Wednesday, November 30, 2005

A outra face da verdade - parte I

É preocupante a perda de autenticidade que vem se fazendo presente nos últimos tempos. Há quem acredite em tudo, há quem duvide de tudo. Ao que deve ser atribuído crédito? Como saber? Intuição?

A Revolução Técnico-Científica gerou a tão famosa internet. Internet essa que é algo tão interligado, tão aberto, mas ao mesmo tempo tão fechado. Embora eu acredite que seja um bom meio de comunicação, mas não o melhor (emoção: 0,1%), a cada dia, mais pessoas se fecham nesse hábitat computador + cadeira. Antes eram os bate-papos que estavam em alta. Mas como fazer das conversas algo mais sólido, mais único, mais preservado? O reservado não foi suficiente. Daí, veio a febre do ICQ. I seek you, todos eram conhecidos por números, identificados por números. E aí então quem quisesse conversar em grupo, também podia. Mas a conversa em dupla se tornara mais fácil.

Tudo se atualiza. Começa a rivalidade entre programas de chat. Alguém havia previsto isso? Chega o MSN para ser o grande rival do ICQ. Até então, as conversas eram realizadas e, muitas vezes, entre desconhecidos. E quem me garante que o cara do bate-papo era genuíno? Quem me garantia que o cara do ICQ procurando gatinhas era 100% verdadeiro?

E então vem outro recurso de identidade: a foto. Meu prof. de Português dizia: "Se te dizem que viram teu namorado com outra na rua, você não dá tanto crédito... você acredita no seu namorado... mas se aumentam a quantidade de detalhes, por exemplo: Vi teu namorado com uma bermuda da Rip Curl, com uma menina baixinha, de cabelos longos, usando boné... sendo que os detalhes se adaptam à realidade, a hábitos regulares e até mesmo a desconfianças... você passa a acreditar mais". Com a foto, a identidade se torna mais suscetível à atribuição de crédito. Mas, ainda me pergunto: e aquela foto? É daquela pessoa mesmo? Deixo meu lado cético de lado e continuo com o pensamento em mente de que a mentira realmente precisa de bengalas.

"Desabrocho na minha dúvida, faço da vida um presságio e da verdade um pressentimento".